28 de setembro de 2012

The Stars My Destination, ou O Conde de Monte Cristo da ficção científica

The Stars My Destination (1956), de Alfred Bester, é um dos melhores livros de ficção científica que já tive oportunidade de ler. Não o digo por ser um dos preferidos de autores como William Gibson, Neil Gaiman ou Joe Haldeman, ou por ser hoje - e com toda a justiça - considerado um precursor do popular cyberpunk - mas sim por ser uma obra extraordinária, um prodígio de imaginação e uma aventura vertiginosa da primeira à última página.

Com um prólogo interessante a explicar como a Humanidade aprendeu a teletransportar-se (o termo de Bester é jaunting), e o impacto que isso teve na sociedade, com o desaparecimento das redes de transportes (tornadas obsoletas) e as formas de preservação da privacidade num mundo onde toda a gente pode, em teoria, ir a qualquer lugar, a história tem lugar alguns séculos no futuro, numa época tão fantástica como sombria. O protagonista, Gully Foyle, segue metodicamente a sua rotina de sobrevivência nos destroços da nave espacial Nomad, de cuja tripulação foi o único sobrevivente após a nave ser apanhada no fogo cruzado da guerra entre os planetas centrais e as colónias exteriores situadas em luas dos planetas mais distantes do Sistema Solar. Foyle é um homem comum, médio - não em dimensões físicas, pois essas são generosas, mas em tudo o resto. Não se faz notar, não brilha ou falha no seu trabalho. Quando ficou encurralado nos destroços da Nomad, estabeleceu uma rotina de sobrevivência e executou-a com rigor. Até que, após meses sozinho no vazio do espaço, a nave espacial Vorga passa ao largo da Nomad, e ignora os sinais de socorro enviados por Foyle. O que, ao invés de o fazer entrar em desespero, fá-lo sair da sua letárgica rotina e, mais do que sobreviver, empreender todos os esforços - ao seu alcance ou não - para sair dali e encontrar os responsáveis da Vorga que ignoraram o seu sinal de socorro e obter a sua vingança. De preferência, com sangue (e de que maneira).

A partir deste ponto, a narrativa segue Gully Foyle numa autêntica história que se poderia definir como “O Conde de Monte Cristo meets Ficção Científica”, repleta de intriga, traição, twists surpreendentes e violência q.b.. A cruzada de vingança iniciada por Foyle leva-o a encontrar uma substância rara, tão enigmática como perigosa, e por isso extremamente cobiçada - para além de um segredo extraordinário a seu respeito, capaz de mudar o rumo da Humanidade. No seu caminho encontra um elenco de personagens memoráveis - do radioactivo Saul Dagenham à cruel Olivia Presteign, de Jisbella McQueen a Robin Wednesbury, cada uma com a sua agenda pessoal - e os resultados da interacção com Foyle são sempre imprevisíveis.

The Stars My Destination está repleto de elementos que antecipam o movimento cyberpunk três décadas antes de William Gibson o ter “inaugurado” com Neuromancer, já nos anos oitenta - o que em si é um feito, e prova da influência desta obra de Alfred Bester. A narrativa é intensa ao ponto da vertigem, com locais extraordinários (a prisão de Gouffre Martell, a colónia nos asteróides) e uma componente visual impressionante, explorada através de uma componente formal original e muito bem conseguida.

Numa época em que a indústria cinematográfica vive dos remakes, dos reboots e das sequelas, não entendo como ainda ninguém pegou em The Stars My Destination. Sejamos francos: o livro pode ser longo, denso e algo complexo, mas pela história que conta, pela acção que apresenta e pelas várias premissas com enorme potencial visual, o clássico de Alfred Bester está a pedir uma adaptação cinematográfica de qualidade.

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